MAIS UM FALSO MÉDICO CONTRATADO POR OS É DESMASCARADO
Uma semana depois de um falsário ser preso na UPA de Realengo, no Rio, outro impostor foi denunciado após cometer erros de português nas receitas médicas: “potácio”
Mais um falso médico é preso no Rio de Janeiro, resultado da irresponsabilidade das organizações sociais (OSs) contratadas pela prefeitura para gerenciar de forma terceirizada unidades de saúde que deveriam ser administradas pelo poder público.
O farsante foi descoberto por erros de grafia em receitas médicas, como ‘potacio’ ao invés de potássio. A prisão, ocorrida nesta terça (25), na UPA do Engenho Novo, Zona Norte do Rio, é destaque dos jornais uma semana depois de outro impostor ser preso, na UPA de Realengo.
O homem, identificado como Aleksandro Gueivara, também chamou a atenção por não saber usar o sistema eletrônico de prescrição de medicamentos.
A contratação como plantonista na unidade foi feita pela Organização Social Viva Rio, que por sua vez foi contratada pela Prefeitura.
As suspeitas começaram no último domingo (23), após pacientes não conseguirem pegar remédios na farmácia porque funcionários não identificaram o número de registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) do falso médico.
Aleksandro também não tem registro para trabalhar no Rio de Janeiro pois não possui inscrição no Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremerj).
A Organização Viva Rio tentou se justificar, sem sucesso. Disse à imprensa que após identificada a fraude, Aleksandro Gueivara foi excluído dos cadastros e não recebeu o pagamento. O caso foi registrado em Boletim de Ocorrência.
O que se sabe até agora, por meio de informações do Conselho Federal de Medicina, é que há duas médicas com o mesmo número do CRM usado por Aleksandro, uma em São Paulo e outra em Minas Gerais.
Para imprensa local, funcionários afirmam que o caso aconteceu porque a Viva Rio está recrutando médicos às pressas. O pagamento do plantão, segundo eles, é de R$ 1,6 mil.
“Em momento nenhum se questionou o CRM desse médico. Ele apresentou documentos, conta bancária, mas não apresentou a carteirinha do CRM. Falou que não estava com ele naquele momento. E mesmo assim foi admitido para fazer aquele plantão. Então, não há investigação nenhuma, basta dizer que é médico que consegue dar um plantão nas unidades da Viva Rio”, afirmou uma pessoa que não quis ser identificada.
Uma paciente que chegou a ser atendida pelo falso médico e recebeu prescrição errada fez um desabafo ao portal de notícias G1.
“Se fosse pra eu operar, o que seria? Um médico falso me operando. E se eu tivesse algum problema a mais do que meu machucado e não soubesse de nada? E se a medicação que ele passasse não fizesse bem pra minha saúde?”, questionou a paciente, que não quis ser identificada.
Outro caso em Realengo
Mostramos aqui no Ataque aos Cofres Públicos há uma semana o caso do outro homem que se passava por médico e também foi parar atrás das grades. Itamberg Saldanha dava plantão na UPA de Realengo usando o carimbo de um profissional. Há denúncias de que Itamberg trabalhou em pelo menos doze unidades de saúde do Rio.
“Estamos preocupados, particularmente nas últimas semanas, com esse número de denúncias em relação a falsos médicos. Reiteremos a necessidade das autoridades de checarem de forma bastante objetiva, através do nosso site, que é público, a veracidade das informações”, alerta o Cremerj.
História se repete
Este não é o primeiro e infelizmente não deverá ser o último caso envolvendo a contratação de falsários da medicina pela organizações sociais que atuam na rede pública de saúde de prefeituras e governos de estado.
Mostramos aqui no Ataque aos Cofres Públicos um caso muito parecido, ocorrido na Baixada Santista, no ano passado. Naquele caso, o médico falso, atuava em UPAs de Praia Grande e Guarujá, controladas por OSs diferentes (SPDM e Pró-Vida). O homem só foi desmascarado porque uma enfermeira de carreira desconfiou da conduta cheia de falhas do profissional.
Relembre no link abaixo os detalhes da história:
CPI DAS QUARTEIRIZAÇÕES VAI CONVOCAR FALSO MÉDICO PRESO EM PRAIA GRANDE
No mesmo hospital houve outro caso semelhante, noticiado pela imprensa local há dois anos, em junho de 2017, quando a organização social responsável pelo Hospital era a Fundação do ABC. Veja aqui.
Também noticiamos aqui no Ataque aos Cofres Públicos o caso de uma empresa quarteirizada que atuava na Rede de Urgência e Emergência de Cubatão e escalava pelo whatsapp novos médicos para cobrir plantões sem pedir qualquer diploma ou certificado. Na época o Ministério Público investigou e o promotor até se fingiu de médico. Chegou a entrar no consultório para iniciar o atendimento se qualquer tipo de problema. A unidade – o PS Central de Cubatão – era gerida pela OS Revolução, e a situação foi alvo de reportagem da TV Record.
TERCEIRIZAÇÃO ARRISCA VIDAS E SAQUEIA OS COFRES PÚBLICOS
Mais uma vez fica claro a quem e a qual objetivo a terceirização e privatização da saúde pública servem.
Disfarçadas sob uma expressão que esconde sua verdadeira natureza, as OSs não passam de empresas privadas em busca de lucro fácil, que substituem a administração pública e a contratação de profissionais pelo Estado. Várias possuem histórico de investigações e processos envolvendo fraudes, desvios e outros tipos de crimes.
No setor da saúde, essas “entidades”, quando não são instrumentos para corrupção com dinheiro público, nepostismo e curral eleitoral, servem como puro mecanismo para a terceirização dos serviços, o que resulta invariavelmente na redução dos salários e de direitos.
Há até casos em que esse as organizações sociais são protegidas ou controladas integrantes de facções do crime organizado, como PCC.
No meio desta pandemia, além do medo de se contaminar e contaminar assim os seus familiares, profissionais da saúde enfrentam também a oferta despudorada de baixos salários e falta de estrutura de trabalho, o que contrasta com a importância da atuação deles no combate ao COVID-19.
É evidente que o saldo para a sociedade é a má qualidade do atendimento, o desmonte do SUS e, pior ainda: o risco às vidas.
Todos estes anos de subfinanciamento do SUS, de desmantelamento dos demais direitos sociais, de aumento da exploração, acirramento da crise social, econômica e sanitária são reflexos de um modo de produção que visa apenas obter lucros e rentabilidade para os capitais. Mercantiliza, precariza e descarta a vida humana, sobretudo dos trabalhadores. O modelo de gestão da Saúde por meio das Organizações Sociais é uma importante peça desta lógica nefasta e por isso deve ser combatido.
Não à Terceirização e Privatização da Saúde Pública! Em defesa do SUS 100% Estatal e de Qualidade!